Amaro Matos
Sobre as “Lanchas do Pico” – Calheta e Espalamaca - a apodrecer no porto da Madalena, muito se tem escrito e pouco se tem empreendido, por culpa de muitos e de ninguém.
É meritória qualquer iniciativa da Assembleia Legislativa dos Açores, como a nº 19/2012, aprovada em 4 de Julho, que recomendava ao Governo dos Açores que:
“1- Promova um estudo sobre a viabilidade da recuperação e reutilização futura da lancha Espalamaca;
2- Apresente os resultados do estudo à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores no prazo de 60 dias.”
Não aprofundei se este último item tinha tido seguimento material, mas não será difícil entender-se que, com o período eleitoral que se lhe seguiu, com a mudança do governo e o fim da legislatura, como que caducam estas iniciativas e não sei se está a ser dada alguma atenção à resolução atrás referida mas duvido seriamente.
Atuneiros abatidos
No entanto aquando da elaboração do relatório - http://base.alra.pt:82/iniciativas/comissao/CPjR019-12.pdf - que habilitou a iniciativa de ser presente a plenário da ALRA pode ler-se que o Diretor Regional da Cultura de então afirmou que: “estando em causa dois objetivos distintos: a recuperação da embarcação “Espalamaca” e a sua eventual reutilização” o que “em seu entender cada um destes aspetos tem de ser devidamente analisado e ponderado de forma a permitir da respetiva viabilidade.” E acrescentou que o governo iria comunicar ao proprietário – Transmaçor – a intenção de realização do estudo em causa, solicitando a respetiva autorização e referiu-se ao prazo – 60 dias – como não dependendo do governo uma vez que o estudo seria feito por entidade externa…” Já o representante da Transmaçôr, nesse relatório referiu que havia poucos elementos na posse da empresa, mas o deputado Lizuarte Machado foi mais pragmático ao afirmar que: “a recuperação da Espalamaca para navegar representaria custos na ordem das centenas de milhares de euros, a que acresceriam os custos inerentes à manutenção e a tripulação” e concluía que ”em seu entender este cenário não será viável atendendo aos custos que dele decorreriam, assim como às características da embarcação que, no contexto atual, são desadequados para o transporte regular de passageiros, assim como para fins turísticos” mas “manifestou opinião favorável à recuperação da Espalamaca enquanto peça museológica (…) que deve ser enquadrada num projeto museológico mais alargado sobre a navegação e a construção naval no arquipélago (…) e que contemple também as embarcações “Calheta” – propriedade da Camara Municipal da Madalena – e dos barcos do Pico: Adamastor e Picaroto.”
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Chalupa Helena - da família Herz
Ora a esta distância - mais de um ano depois - não sei o que está a ser feito, mas possivelmente nada foi estudado e a crise financeira poderá ser mais uma vez desculpa.
À ideia de Lizuarte Machado atrevo-me a acrescentar que há outro património fotográfico, sobre as embarcações construídas na nossa ilha para as empresas armadoras, sediadas na ilha do Pico e que navegaram por essas ilhas além, transportando passageiros e mercadorias. Sei que ele tem um espólio interessante e esse é outro aspeto museológico bastante apelativo, para quem nos procura. Cada conselho tem a sua história nesse aspeto, principalmente Lajes e São Roque.
Lancha Lourdes, Lajes, no Porto da Horta
Seja como for, voltando ao início e à entrevista dada ao Diário Insular por Amaro Matos, filho de mestre Júlio Nunes de Matos, é muito mais meritória a sua ideia e que justifica: “depois de avaliar sobretudo o estado em que estão, achei que só a sua “alma”, isto é a sua forma, ainda estava em condições de ser “salva”. Quanto ao objetivo, uma vez que a minha ação, devidamente autorizada, é pessoal, é desenhar rigorosamente a partir dos dados que recolhi as duas embarcações – Calheta e Espalamaca – e construir os respetivos modelos a partir dos quais será sempre possível construir barcos exatamente iguais. Se já me sinto reconfortado com as notas que tenho, acho que me vou sentir ainda melhor, quando tudo estiver pronto.” Fim de citação
Amaro Matos - D.I. - 2013.09.05
E assim chego a uma conclusão: a Resolução da ALRA de pouco serve (serviu) porque não é (era) com a verba inscrita no Plano da RAA - dotação de 50 000,00€ para restauro da Espalamaca (estudo sobre a viabilidade da sua recuperação e reutilização futura) que se iria ir além de estudos e ao preço que por aí se ouvem…
Enfim parece que estávamos perante uma miragem e do que precisamos é de realismos como as ideias expressas por Lizuarte Machado e as concretizações de Amaro Matos.
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